Floyd Mayweather venceu o “combate do século” em
Las Vegas frente ao filipino Manny Pacquiao e em pouco mais de uma hora
amealhou uns impressionantes 143 milhões de euros em ingressos, publicidade e
direitos televisivos. Cada dia de greve da TAP custa à transportadora área portuguesa
uma média de 5 milhões de euros. A cumprirem-se os dez dias de paralisação previstos
pelo sindicato dos pilotos, a TAP vai perder cerca de 50 milhões de euros. O
valor até nem parece demasiado quando se tem em mente que Floyd Mayweather fez
três vezes esse montante num único combate, mas para a TAP, que enfrenta graves
problemas de tesouraria há vários anos, qualquer quebra inesperada nas receitas
pode pôr em causa a própria operacionalização da companhia. Com tantas e tão
recorrentes paralisações, o valor financeiro da marca atribuído pela OnStrategy
| Brand Finance caiu 22%, passando de 362 milhões de euros para 284 milhões de
euros no mercado. Feitas as contas, a TAP perdeu 78 milhões de euros na sua
valorização. Somando ao valor operacional que a companhia espera perder com a
greve, a TAP verá 128 milhões de euros a voar para muito longe. Com a derrota, o
filipino Manny Pacquiao amealhou 107 milhões de euros. Talvez o que a TAP
precisa mesmo é de uns murros de Floyd Mayweather. Seria sempre mais rápido e
menos doloroso que a desmoronamento a que vamos assistindo aos poucos. A este ritmo,
e a ser concluída a privatização que o Governo prossegue ferozmente (e que torna
bandeira dos meses finais da sua legislatura), a TAP vai ser vendida a troco de
amendoins. Talvez Floyd Mayweather puxe os cordelinhos à sua recheada bolsa,
mas dificilmente se contentaria com algo tão pouco interessante.
Já que dificilmente Floyd Mayweather trocará
murros com a TAP, ansiamos que a TAP e os seus pilotos deixem de trocar
chapadas. É um espectáculo gratuito que ninguém quer ver, como publicidade indesejada
que invade os nossos ecrãs e as nossas caixas de correio, físicas e virtuais
(quantas promoções de 1º de Maio é possível existir?). Os pilotos da TAP consideram
que o Governo não está a cumprir o acordo assinado em Dezembro de 2014, nem um
outro, estabelecido em 1999, que lhes dava direito a uma participação no
capital da empresa no âmbito da privatização. Ou seja, a TAP mal voa neste
momento porque o Governo não quer dar ainda mais dinheiro a uma classe já
endinheirada. A ganância desmedida dos pilotos da TAP é ainda mais indecorosa
quando a sua atitude conjunta, liderado pelo seu sindicato, pode colocar a
sobrevivência da companhia em risco e implicar o despedimento dos seus milhares
de trabalhadores (e o fim, ainda que temporário, de rotas estratégicas para os
interesses portugueses). Para os pilotos será sempre fácil arranjar trabalho,
mas para os restantes, para as equipas de manutenção, para as equipas de vendas
e para as equipas de tudo o resto que suporta a actividade da companhia, será
provavelmente o fim da linha no sector de actividade. Não houve qualquer bom
senso na marcação da greve, como também não tem havido nos últimos anos em acções
semelhantes. Ultimamente, qualquer coisa é motivo para greve. Na maioria dos
casos, um diálogo bastaria entre as partes envolvidas para os desacertos serem
resolvidos. Mas em Portugal não se dialoga muito. Grita-se mais. Protesta-se
mais. A verdade é que não cansa tanto. Dialogar é extenuante. Implica negociar
muito e fazer cedências. É mais fácil paralisar. Tanta paralisação tem
enfraquecido colectivamente o poder da greve. Já ninguém a leva muito a sério. Autocarros,
metros, professores. Mais do mesmo. Lembra a história do Pedro e do Lobo. E
tanto temos gritado lobo quando não há nenhum que quando ele vier mesmo ninguém
nos vai dar ouvidos. Nem com murros de Floyd Mayweather.
Enquanto a TAP vai ficando por terra, a realeza
britânica vai de vento em popa. José Mourinho é o novo rei do futebol inglês e
os Duques de Cambridge são pais da única mulher na linha de sucessão ao trono
(a quarta na hierarquia). A nova princesa britânica ainda não tem nome, mas já
são feitas apostas… e muito dinheiro (mais uma forma para a TAP revigorar a sua
tesouraria?). O nascimento real tomou conta da comunicação social um pouco por
todo o lado em terras de Sua Majestade. A poucos dias das eleições para o
Governo e para a Câmara dos Comuns, os políticos britânicos tiveram finalmente oportunidade
para respirar. Afinaram estratégias para o derradeiro sprint e afastaram polémicas. Bastou um nascimento. A imigração tem
sido um tema quente no debate político. O UKIP, o Partido da Independência do
Reino Unido, que venceu as últimas eleições europeias, quer impor limites à entrada
de estrangeiros no país, dando continuidade ao discurso conservador que tem
dominado o panorama europeu nos últimos tempos e que tem vindo a conquistar partidários.
Só neste fim-de-semana, a Guarda Costeira italiana resgatou quase 3700 migrantes
ao largo da costa da Líbia. Mesmo depois do naufrágio que vitimou sete centenas
na maior tragédia de sempre no Mediterrâneo, milhares continuam a arriscar a
sua sorte. A resposta europeia continua a ser mesma, nem para cima, nem para
baixo, enquanto partidos como o UKIP no Reino Unido e como a Frente Nacional em
França continuam a crescer e a endurecer os seus discursos. Enquanto a Suíça,
que colocou efectivamente no terreno uma política anti-imigração, é eleita o
país mais feliz do mundo. O que a Europa precisava mesmo era que Floyd
Mayweather viesse dar-lhe uns murros – até daria dinheiro! –, mas a fila já começa a ser extensa e como as
coisas estão a ficar talvez não conseguisse passar sequer a fronteira. Nem com
aviões da TAP.
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