domingo, 3 de maio de 2015

Murros de ouro

Floyd Mayweather venceu o “combate do século” em Las Vegas frente ao filipino Manny Pacquiao e em pouco mais de uma hora amealhou uns impressionantes 143 milhões de euros em ingressos, publicidade e direitos televisivos. Cada dia de greve da TAP custa à transportadora área portuguesa uma média de 5 milhões de euros. A cumprirem-se os dez dias de paralisação previstos pelo sindicato dos pilotos, a TAP vai perder cerca de 50 milhões de euros. O valor até nem parece demasiado quando se tem em mente que Floyd Mayweather fez três vezes esse montante num único combate, mas para a TAP, que enfrenta graves problemas de tesouraria há vários anos, qualquer quebra inesperada nas receitas pode pôr em causa a própria operacionalização da companhia. Com tantas e tão recorrentes paralisações, o valor financeiro da marca atribuído pela OnStrategy | Brand Finance caiu 22%, passando de 362 milhões de euros para 284 milhões de euros no mercado. Feitas as contas, a TAP perdeu 78 milhões de euros na sua valorização. Somando ao valor operacional que a companhia espera perder com a greve, a TAP verá 128 milhões de euros a voar para muito longe. Com a derrota, o filipino Manny Pacquiao amealhou 107 milhões de euros. Talvez o que a TAP precisa mesmo é de uns murros de Floyd Mayweather. Seria sempre mais rápido e menos doloroso que a desmoronamento a que vamos assistindo aos poucos. A este ritmo, e a ser concluída a privatização que o Governo prossegue ferozmente (e que torna bandeira dos meses finais da sua legislatura), a TAP vai ser vendida a troco de amendoins. Talvez Floyd Mayweather puxe os cordelinhos à sua recheada bolsa, mas dificilmente se contentaria com algo tão pouco interessante.

Já que dificilmente Floyd Mayweather trocará murros com a TAP, ansiamos que a TAP e os seus pilotos deixem de trocar chapadas. É um espectáculo gratuito que ninguém quer ver, como publicidade indesejada que invade os nossos ecrãs e as nossas caixas de correio, físicas e virtuais (quantas promoções de 1º de Maio é possível existir?). Os pilotos da TAP consideram que o Governo não está a cumprir o acordo assinado em Dezembro de 2014, nem um outro, estabelecido em 1999, que lhes dava direito a uma participação no capital da empresa no âmbito da privatização. Ou seja, a TAP mal voa neste momento porque o Governo não quer dar ainda mais dinheiro a uma classe já endinheirada. A ganância desmedida dos pilotos da TAP é ainda mais indecorosa quando a sua atitude conjunta, liderado pelo seu sindicato, pode colocar a sobrevivência da companhia em risco e implicar o despedimento dos seus milhares de trabalhadores (e o fim, ainda que temporário, de rotas estratégicas para os interesses portugueses). Para os pilotos será sempre fácil arranjar trabalho, mas para os restantes, para as equipas de manutenção, para as equipas de vendas e para as equipas de tudo o resto que suporta a actividade da companhia, será provavelmente o fim da linha no sector de actividade. Não houve qualquer bom senso na marcação da greve, como também não tem havido nos últimos anos em acções semelhantes. Ultimamente, qualquer coisa é motivo para greve. Na maioria dos casos, um diálogo bastaria entre as partes envolvidas para os desacertos serem resolvidos. Mas em Portugal não se dialoga muito. Grita-se mais. Protesta-se mais. A verdade é que não cansa tanto. Dialogar é extenuante. Implica negociar muito e fazer cedências. É mais fácil paralisar. Tanta paralisação tem enfraquecido colectivamente o poder da greve. Já ninguém a leva muito a sério. Autocarros, metros, professores. Mais do mesmo. Lembra a história do Pedro e do Lobo. E tanto temos gritado lobo quando não há nenhum que quando ele vier mesmo ninguém nos vai dar ouvidos. Nem com murros de Floyd Mayweather.


Enquanto a TAP vai ficando por terra, a realeza britânica vai de vento em popa. José Mourinho é o novo rei do futebol inglês e os Duques de Cambridge são pais da única mulher na linha de sucessão ao trono (a quarta na hierarquia). A nova princesa britânica ainda não tem nome, mas já são feitas apostas… e muito dinheiro (mais uma forma para a TAP revigorar a sua tesouraria?). O nascimento real tomou conta da comunicação social um pouco por todo o lado em terras de Sua Majestade. A poucos dias das eleições para o Governo e para a Câmara dos Comuns, os políticos britânicos tiveram finalmente oportunidade para respirar. Afinaram estratégias para o derradeiro sprint e afastaram polémicas. Bastou um nascimento. A imigração tem sido um tema quente no debate político. O UKIP, o Partido da Independência do Reino Unido, que venceu as últimas eleições europeias, quer impor limites à entrada de estrangeiros no país, dando continuidade ao discurso conservador que tem dominado o panorama europeu nos últimos tempos e que tem vindo a conquistar partidários. Só neste fim-de-semana, a Guarda Costeira italiana resgatou quase 3700 migrantes ao largo da costa da Líbia. Mesmo depois do naufrágio que vitimou sete centenas na maior tragédia de sempre no Mediterrâneo, milhares continuam a arriscar a sua sorte. A resposta europeia continua a ser mesma, nem para cima, nem para baixo, enquanto partidos como o UKIP no Reino Unido e como a Frente Nacional em França continuam a crescer e a endurecer os seus discursos. Enquanto a Suíça, que colocou efectivamente no terreno uma política anti-imigração, é eleita o país mais feliz do mundo. O que a Europa precisava mesmo era que Floyd Mayweather viesse dar-lhe uns murros – até daria dinheiro! –, mas a fila já começa a ser extensa e como as coisas estão a ficar talvez não conseguisse passar sequer a fronteira. Nem com aviões da TAP.


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