Esta semana o The
Guardian revelou números preocupantes sobre a geração nascida entre 1980 e
meados da década de 90. Sobre a minha geração. A investigação levada a cabo
pelo jornal britânico revelou que a actual geração de jovens adultos está cada
vez mais afastada da riqueza gerada no mundo ocidental, ganhando em média menos
20% do que a média da população activa. Há 30 anos, os jovens adultos recebiam
acima da média nacional. Em 2016 têm menos rendimento disponível que
pensionistas e enfrentam muito maiores obstáculos para se estabelecerem como
adultos independentes que as gerações anteriores. É uma geração que para se independentizar
completamente, para ter uma casa ou formar uma família, tem que fazer sérios
compromissos financeiros. O The Guardian conclui que a geração em causa não
está a atingir as etapas fundamentais da vida adulta ao mesmo ritmo que as
gerações anteriores porque tais etapas são muito mais caras e porque esta
geração está a ser pior renumerada do que os seus progenitores com a mesma
idade.
Pertencendo a
esta geração, só posso confirmar o cenário pessimista traçado pelo jornal.
Aliás, considero-o francamente pior, porquanto a investigação debruça-se sobre
dados de poderosas economias como os EUA, o Reino Unido ou a Alemanha. Portugal
não entra nestas contas, mas todos temos noção de que estamos pior do que o
resto da Europa e do Ocidente, que caminhamos na cauda do crescimento há largos
anos. Se nestes países se constata uma perda de rendimento nas gerações mais
novas, que dizer de Portugal? Que dizer dos milhares de jovens adultos
portugueses sem emprego, ou com emprego precário, comummente em áreas de
actividade distintas daquela em que se formaram? Que dizer de um país em que o
desemprego jovem ronda os 35%, contra os já preocupantes 17% da média europeia?
Que dizer de um país que, agrilhoado durante anos pelos ferros da austeridade,
assistiu nos anos recentes a uma fuga de cérebros, sugerida até pelo Estado
português? Estaremos perante uma geração perdida? Estarei inserido numa geração
de potencial desbaratado, de criatividade inibida e de constante desvalorização
do conhecimento adquirido?
Como gostaria
de escrever outra ideia e como me dói reconhecer esta. Sei as dificuldades que
os jovens da minha geração enfrentam quando terminam os estudos. Sei as dificuldades
que sentiram para levá-los a bom termo. Conheço muito bem os sacrifícios feitos
por pais e famílias para, perante bolsas de estudo exíguas e propinas altas, garantir
um diploma superior aos filhos. Um diploma que em décadas assegurava uma
espécie de el-dourado e que hoje em dia apenas assegura o empolado axiónimo Dr. antes do nome num cartão de
multibanco. Um diploma dantes considerado com estima e agora encarado como um
singelo atestado de conhecimentos diversos. Um diploma que permite acesso a
estágios profissionais, raramente a trabalho certo, embebidos em promessas
extensas de continuidade e perspectivas salariais rapidamente extinguidas em
trabalho extraordinário, precário ou gratuito. Temos menos rendimento que as
gerações anteriores? Sim; às vezes nem o temos. Mas pior é não ter a mesma quantidade
de oportunidades. Pior é não ter perspectivas de futuro e sentir das gerações
anteriores pressão para iniciar a vida adulta nos mesmos parâmetros delas. Sentir
destas gerações que ter casa arrendada não vale, não ter carro próprio é uma
vergonha e permanecer solteiro é uma fatalidade.
Já fomos
chamados de millennials, de geração Y
e de geração à rasca. Somos a geração de muitos nomes. Somos a geração dos
elevados custos de vida, do arrendamento, do passe social e do Porta 65. Somos
a geração do desemprego altamente qualificado, da precaridade e dos recibos
verdes. Somos a geração do vestir a camisola, das horas extra, dos estágios e
pré-estágios, da renumeração em forma de experiência profissional e dos trainees com experiência. Somos a
geração sem poupanças, da mutabilidade profissional, dos contratos a seis
meses. Somos a geração sem carreira profissional. Somos a geração proibida de perspectivar
o futuro que se esfoça para se visualizar daí a cinco anos em entrevistas de
emprego. Somos a geração não-emancipada, financeiramente dependente e arrestada.
Somos a geração acusada de atrasar a sua independência, de se perder em
tecnologias e movimentos trendy, nas selfies, no Facebook e nos tweets. Somos a geração mais
qualificada, capaz de falar mais do que uma língua e de dominar diferentes
áreas. Somos a geração que mais tempo permanece em posições juniores. A geração
que não recebe aumentos ou promoções. A geração aconselhada a emigrar. Somos a
geração que conta tostões a meio do mês. Das férias cá dentro. Dos tascos e
bares escuros. Somos a geração solteira e sem descendência. Somos uma geração
de transição. Uma geração perdida. Um mito futuro?
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