Por favor, já
chega. Basta! Parem de bater às nossas costas e às nossas fronteiras de forma atabalhoada.
Temos consciência da dimensão do vosso problema e estamos a resolvê-lo com a
melhor velocidade e com completo empenho. Os nossos líderes vão reunir-se já no
próximo dia 14 de Setembro para encontrar soluções para o vosso flagelo. Não falta
muito. Não desesperem. Há tempo. Confiem, a Europa permanece fiel aos
princípios da sua edificação e ao seu código de moral. Considerem, por exemplo,
a resolução do conflito ucraniano e a da crise da dívida grega. Quando um
ameaçava a duradoura estabilidade e quando outro começava a contaminar economias,
actuou-se rapidamente e deu-se fim ao problema. Agora está tudo bem. A evidência
dessa actuação é que já pouco ou nada se tem ouvido sobre esses temas. Só pode
ser porque ficaram resolvidos e bem resolvidos.
Soluções de
circunstância que meramente cortam folhas podres e falham cortar o mal pela
raiz não são adágio da comum solução europeia. A Europa digere qualquer desafio
até ao tutano, até não haver mais nenhum tema debaixo de nenhuma pedra. Confiem
que mal os líderes europeus arregacem as mangas burocráticas e metam mãos à
obra não haverá mais qualquer naufrágio no Mediterrâneo, não haverá mais qualquer
corpo a dar às belas praias da costa sul, de velhos e de novos, de mães e de filhos.
Confiem e tomem as vias legais e esqueçam os comboios em Budapeste e no Canal
da Mancha e os barcos nas ilhas gregas. Ignorem aqueles muros ali construídos. Não
há bloqueios e queremos-vos cá. Começámos por querer a vossa Primavera Árabe. Mesmo
que à distância e unicamente com palavras de incentivo, ajudámos-vos a depor
ditadores e opressores e a reconstruir as vossas sociedades. Dir-me-ão agora
que o Estado Islâmico tomou conta dos vossos territórios, das vossas vilas, das
vossas casas, que tem vindo a aterrorizar e ameaçar-vos com armas, facas, fogo
e propaganda. Dir-me-ão que nada fizermos e que por isso fogem para cá. Compreendemos.
Venham todos. A seu tempo daremos resposta ao Daesh. Não há pressa. Ainda não
estão à nossa porta como vocês.
A Europa está
de braços abertos para receber-vos. Passem só por cima daquele muro ou por
baixo daquele arame farpado que serve para manter afastados animais selvagens.
Há bens e comida em abundância para todos. Entrem sempre. Mas não venham para
Portugal. Aqui há excesso de população e temos pouco espaço para nós. Não
precisamos de mais população activa para equilibrar as contas da nossa
Segurança Social, que tem estado de saúde. Admito que há algum espaço no
interior do país, em vilas e aldeias em vales nas montanhas. Mas não vão para
lá. A população idosa que lá habita prefere continuar sozinha, no seu silêncio,
na morosidade da sua rotina, no seu predilecto abandono. As terras são difíceis
de revitalizar. Passem sempre a direito da Grécia para a Macedónia para a
Europa Central, da Hungria para a Áustria, para a Alemanha e para a França, e de
lá para Inglaterra, onde já não podem estragar as férias aos britânicos.
Mas, por
favor, já chega. Basta! Parem de bater às nossas costas e às nossas fronteiras
de forma atabalhoada. Perturba-nos consideravelmente os relatos das vossas
travessias. É que é mesmo aqui à porta de casa e a vizinhança começa a comentar.
Agora que já são refugiados e que já não são migrantes, tenham bom senso. Já
não vos assumimos como meros transeuntes, que não são de lado nenhum e que não
vão para lado nenhum. Confiem que continuaremos a aplicar a Terceira Lei de
Newton invertida. Já reagimos ao vosso problema e agora agiremos em conformidade.
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